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Sobre filhos e fé

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miguelzinho

Por: Glauciana Monteiro Nunes

A minha jornada pessoal tem sido, desde o meu despertar de consciência, há mais ou menos cinco anos, muito pautada em um tripé: a minha conexão com o sagrado, o mergulho profundo para me conhecer e a maternidade ativa que eu pratico diariamente com meus filhos, Eduardo e Luca.

Esses três aspectos é que balizam tudo nessa minha passagem terrestre. E hoje é um dia que merece registro, por mais uma manifestação muito genuína de fé, esperança e também poder da mente (De novo, colapsei a onda. Primeira vez foi com encontrar Chico Buarque ao acaso, no Leblon. Dupla fenda, I love you. Se não sabe o que é, joga “experiência da dupla fenda” no google. Serião, você não pode mais viver sem isso).

Hoje eu e Eduardo vivemos uma experiência muito especial. Desde que passamos nosso ano sabático na Bahia, uma dos capítulos mais transformadores de nossa breve vida até aqui, passamos a conhecer e a amar o Arcanjo Miguel. Na escola que os guris estudaram lá, a Casa da Mata, que segue a pedagogia Waldorf, conhecemos a história de Miguel, lá chamado em seu nome original – Micael.

Micael tem tanto destaque na antroposofia, a corrente filosófica da qual nasceu a pedagogia Waldorf, ambas frutos dos estudos e codificação de Rudolf Steiner, que marca uma das épocas do ano letivo. Lá, o ano é dividido em fases e em cada um destes períodos as vivências são baseadas na respectiva fase. Setembro é a época de Micael, o arcanjo chefe da milícia celeste, que liderou a guerra moral que houve nos planos superiores, tomando a frente de todos os quóruns de anjos frente aos anjos que bandearam para o lado menos evoluído.

Todas as vivências da época de Micael nos propõem a enfrentar os dragões que temos ao longo de nossa passagem aqui na Terra, tal qual o Arcanjo derrotou o demônio, como relatado na escritura sagrada. Desde então, eu, Dudu e Luca mencionamos Miguel em nossas orações noturnas e pedimos proteção a ele, em nome de Deus, o grande Criador do amor, para nos ajudar em nossas batalhas pessoais.

Desde o início deste ano que frequentamos, todas as terças-feiras, um grupo de oração na igreja católica. Embora eu tenha bastante afeição a outras correntes filosóficas e doutrinas espirituais, como o Kardecismo e a Umbanda, neste momento o catolicismo e os rituais dele estão fazendo muito sentido em minha busca espiritual. Dessa forma, além de ir à missa constantemente, também vamos à novena das Mãos Ensanguentadas de Jesus, na Capela São Francisco de Assis, na Vila Glória, que pertence à Diocese de Assis, a cidade onde moramos.

Enquanto eu fico na celebração principal, Dudu e Luca ficam, junto de outras crianças, talvez umas 30, aproximadamente, no barracão. Lá, eles brincam e ganham alguns ensinamentos pautados no amor e na bondade de Cristo. O Vigário da Paróquia, Padre Juninho, tem maior afeição, respeito e carinho pelas crianças. É tocante o olhar fraterno que ele dedica aos pequenos. Eu sou muito fã dele.

Há uns 3 meses, apareceu um boneco de pelúcia de São Miguel Arcanjo, que é carinhosamente chamado de Miguelzinho. Toda a semana, por meio de um sorteio, uma criança leva o Miguelzinho para a casa e passa a semana com ele. Uma forma de incentivar os pequenos a rezarem diariamente, o que já fazemos todas as noites aqui em casa. Desde que eles eram bebês a gente reza (antes só eu, mas agora maiores eles também) um Pai Nosso, uma Ave Maria, um Santo Anjo e cada um de nós agradece pelas coisas boas que teve no dia e pede algo a Deus, se quiser. Em alguns momentos também rezamos o terço – um mistério a cada noite, senão eles não dão conta :)

Desde o primeiro dia que começaram os sorteios Eduardo fica muuuuito ansioso para ser o felizardo a trazer Miguelzinho para casa. Nas primeiras vezes ficava tão frustrado que vinha pra casa chorando todas as terças. Algumas pessoas que sempre vão à igreja já até estavam acostumando-se a consolá-lo ao final de todas as celebrações.

Hoje, diferente de sempre, Luca não foi conosco à igreja. Ele foi comer pizza com os amigos da escola, num evento que faz parte das festividades pelo fim do ensino infantil (Deus do céu, meu caçula também já vai pro ensino fundamental. Tempo, please, anda mais devagar). Dudu ficou muito chateado por não poder ficar com Luca. Mas, muito chateado mesmo. Chorou, resmungou, esbravejou, disse que não queria ir para a igreja, que era chato, que a vida era injusta e todo o mimimi tradicional dos cancerianos-atores-mexicanos, como Eduardo é. Eu fui explicando a ele que a vida é assim mesmo, que nem sempre a gente vai poder fazer as coisas legais que a gente quer, que algumas situações não nos cabem e tal. Aquele bla bla bli que nós, mães, nunca sabemos se realmente vai funcionar.

A celebração na igreja foi especialmente tocante. Eu tenho desenvolvido alguns dons muito bonitos lá. Com toda aquela energia tenho vivido momentos de profunda conexão com o sagrado. Minha vida é radicalmente impactada pela fé que eu recarrego todas as terças lá na novena. E hoje, ao final, eu pedi com muita intensidade que Deus permitisse, se fosse do merecimento de Eduardo, que ele tivesse o presente de ser o sorteado. Que seria maravilhoso se ele pudesse, depois da frustração anterior, receber Miguelzinho, que ele tanto deseja há meses.

Eu pedi a intercessão do anjo da guarda dele, de Arcanjo Miguel e com o coração puro de mãe, pedi que Deus fizesse isso por meu menino, que assim seria mais fácil explicar a ele que por muitas vezes em nossa vida a gente perde algumas coisas, que achávamos que seriam boas pra gente, não entendemos, esbravejamos, fazemos birra, beicinho, como Dudu fez hoje, mas tem algo muito melhor logo ali na frente preparado, exatamente aquilo que tanto queríamos.

Acabou a celebração e chegou a hora das crianças irem pra frente do altar para o sorteio. Eu estava no corredor e cada um dos pequenos que passou, em fila indiana, cruzou o olhar com o meu. Eu olhei profundamente nos olhos de cada criança. Alguns sorriram, outros desviaram os olhos, outros não manifestaram nenhuma reação. Quando Dudu passou, toquei na mão dele, como sempre fazemos.

Eu me sentei e pedi uma última vez que fosse meu menino o sorteado. O papelzinho foi retirado da sacola e anunciado Maria Eduarda Campos. Uhhhh, na trave! Na mesma hora, algumas pessoas exclamaram “ela já foi”. Eu também reforcei o coro e imediatamente um novo sorteio foi feito. Tia Fabi pegou outro papelzinho, eu fiquei em pé, e ela anunciou: Eduardo Nunes! Eu dei um grito tão alto de alegria, que a igreja toda deu risada de mim. Eduardo, na hora, ficou com a carinha de surpresa, como há muito tempo eu não via tamanha felicidade e brilho nos olhos daquela pessoinha. Pegou Miguelzinho no colo, posou pra foto e eu só ouvia a igreja toda naquele ritmo “óoounnnnnnnn, a carinha dele”. Ele veio andando lá do altar na minha direção. Só ele e eu em pé na igreja lotada. Chegou bem na minha frente, abriu um sorriso e levantou Miguelzinho a frente de meu rosto, como se fosse o tesouro mais precioso do mundo. Aquele cuidado e reverência que só temos com as coisas que nos são mesmo muito caras e preciosas. Eu o abracei emocionada e nós dois choramos juntos ali.

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Até agora estou emocionada. E emocionadas ficaram também algumas pessoas que ali estavam. Várias delas vieram nos abraçar, pois sentiram a energia. Fiquei repetindo inúmeras vezes, na emoção em que eu me encontrava, o quanto Deus é maravilhoso, o quanto eu tinha pedido que ele fosse o sorteado hoje, que ele tinha de ver como precisava ter vindo para a igreja, para pegar o presente dele. Que em muitos momentos da nossa vida coisas tentadoras e sedutoras aparecem a nossa frente para nos desviar do caminho, do objetivo, da meta. Que se ele tivesse ficado com Luca, mesmo que eu tivesse feito alguma manobra com a professora do irmão, ele teria perdido o que ele mais queria nos últimos meses. Falei sobre desafios, sobre persistência, sobre coragem, sobre firmeza, sobre sonhos.

Falei para ele, mas falei em primeiro lugar para mim, afinal os meus ouvidos estão bem mais próximos da minha boca do que os de Eduardo. Tudo o que a gente fala para o outro serve em primeiro lugar para nosso próprio aprimoramento. E os filhos nos propõem isso a todo instante: que a gente revisite nossas próprias fraquezas e sombras e veja possibilidades de melhorar. Reafirmei para mim que eu siga no meu propósito, mesmo que o caminho tenha atalhos mais fáceis e sedutores. Que eu tenha a firmeza de andar no caminho reto, por vezes árido, do meu propósito. Que eu enfrente as pedras e não chute-as, correndo o risco delas machucarem meus pés, fruto de minha própria escolha. Reafirmei para mim, sobretudo, que a fé move montanhas. Que se a gente quer muito uma coisa, com a força de nossos desejos, com a alta vibração de nossas energias, com a emanação do bem, com merecimento e com a vontade de Deus, é claro, que é Soberano, a gente consegue. E assim é. Gratidão. Gratidão. Gratidão é o que sinto neste momento.

*Imagem 1: Acervo Pessoal. Luca e Eduardo agradecendo à Deus e pedindo a força de Arcanjo Miguel para enfrentarem os dragões desta vida. 

**Imagem 2: Bete Bernardes, a dirigente da novena das Mãos Ensanguentadas de Jesus.


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